segunda-feira, outubro 17, 2005


Sonhos da bola laranja
São meros garotos, mas já treinam e sonham como homens. Fernando Soria, Thiago Ortega e Henrique Aguiar jogam basquete nas categorias inferiores do Palmeiras. Domingo passado estrearam nos playoffs do Campeonato Paulista. Pela primeira vez pude vê-los em ação e constatar aquele brilho nos olhos de meninos que sonham tanto. Com o basquete brasileiro? Seleção? Talvez. Mas minha aposta maior é que quando a noite e o sono chega, o travesseiro gostoso e o corpo exausto os levam direto para a NBA ou para a Europa, porque o basquete profissional nacional anda cada vez mais triste. Que moleque será louco de sonhar em jogar para uma seleção que tem o Lula como treinador? Ou o Grego como presidente há milênios? E como vão sonhar com o Brasil se não existem mais ídolos aqui desde que o eterno Oscar encerrou a carreira? Tá, posso estar errado, porque o Fernando já me disse achar um absurdo o Nenê se recusar a jogar pela seleção, mas sei não...

Antes do sonho, uma jornada longa demais. Direto para o jogo Palmeiras e Paulistano, no ginásio desse último. Fernando volta de contusão no tornozelo, está meio mal nos primeiros dois quartos, mas depois, mostra o seu valor. No momento mais dramático, quando o Paulistano empata o jogo em 50 a 50, ele pega a bola, atravessa a quadra toda, se infiltra, marca uma bela cesta e ainda sofre falta. Depois, vai fazer isso de novo e ir além, pegando rebotes, dando belas assistências (duas desde o seu garrafão até a zona morta do inimigo, servindo seu companheiro; uma com extrema habilidade, servindo o parceiro passando a bola por trás de suas costas) e marcando pontos importantes. Atuação de jogador que trabalha bem em todas as funções e fundamentos essenciais de quem sonha em ser grande. Mas é preciso melhorar, muito, em um detalhe que decide muitos jogos: os lances livres. Errou demais, e o jogo poderia ter sido mais tranqüilo (o Paulistano encostou no finalzinho, quase virou) se não errasse cinco ou seis arremessos desse.

Outro menino que esteve bem foi Ortega, pivô trabalhando bem nos rebotes defensivos, se projetando bem nos primeiros passes das ações ofensivas e até fazendo uns pontinhos. Falta ao guri mais força física, que virá com o tempo, e um pouco mais de calma.

Henrique não jogou, mas quantos garotos podem se orgulhar de fazer parte de uma grande equipe e um grande clube como o Palmeiras? E quantos ele não terá superado para garantir um lugar naquele banco de reservas honrado?

Os três garotos representam bem o que é ser um jovem esportista batalhador e respeitoso. Ao final da partida Fernando fez questão de apertar a mão não só de adversários e juízes, mas também do pessoal da mesa de cronometragem. Humildade e educação são passos fundamentais nos caminhos de um campeão. E ele ainda mostrou algo raro para os tão jovens: calma nos momentos decisivos da partida, não é daqueles de se enervar facilmente, pelo menos foi o que mostrou nesse jogo.

Parabéns a essa molecada por essa valiosa vitória. E que sigam na postura, determinação e talento que exibiram domingo passado. Quem sabe um dia a Europa ou até aquele sonho gigantesco não vire realidade.

PS- Lembrem, guris, que humildade e respeito deve valer em todos os lugares. Portanto, nada de sacanear os (as) atletas de outros esportes com quem vocês convivem. Ao Fernando, vai um recado especial: nunca vi a Raíssa errar um saque, é incrível a concentração dela nesse momento e o ritual dela antes de levantar a bola e meter a paulada com precisão e força. Se aproxima dela, moleque, vai aprender muito. E lembra que o Oscar, ao final de cada treino, ficava um tempão treinando arremessos sozinho.

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