terça-feira, dezembro 16, 2008

A última chama dos anos 80


Oceano, luz dourada da aurora ou entardecer. Um homem a remar. A participar desses que são os mais belos momentos do dia. Momentos em que a luz do sol é vela, a assoprar a beleza de cores tão delicadas quanto o conforto de uma luz quase abraço, a envolver-abençoar esses seres românticos que estão vivendo nos instantes fundamentais: do dia que nasce e da noite que cai.
Quantos estão acordados logo cedo realmente observando de corpo e alma preparados e dispostos nesses tempos de baladas que começam de madrugada e varam a manhã?
Quantos sentem o sol a nascer de cara limpa, sem falsas viagens?
Quantos se entregam à noite para se divertir e sentir mais (nas sombras encontramos a luz das pessoas que não se escondem) sem precisar de balinhas, ervas e outros aditivos?
Quantos percebem mais um dia que se esvai enquanto dão o sangue no trabalho ou viram a tarde largados, desperdiçando mais uma jornada?
Lembro de minha adolescência carioca e do dia em que descobri o pôr-do-sol de Ipanema e aquela galera reunida batendo palmas. Isso ainda existe, meu caro amigo, Deko?
Adolescência carioca? Não, não morei no Rio, mas todo ano íamos em um bando de amigos da escola pra curtir o feriadão de outubro e novembro no Rio. E aqueles feriados valiam como anos, porque pertencíamos talvez à última geração que ainda saudava a vida, a dos anos 80. Os 80 não tão culturais, rebeldes e libertários como os 60 e 70, mas que foram tempos tão alegres, espontâneos e também ricos (Cazuza, Lobão, Blitz, Paralamas, Legião; Flamengo de Leandro, Júnior, Adílio, Nunes e Zico; Corinthians de Biro-Biro, Sócrates, Zenon, Casagrande e Vicente Matheus; Brasil de Telê e um monte de gênios; São Paulo de Careca, Muller e Silas; povo nas ruas pelas Diretas Já, abertura pela democracia etc etc).
Porque a gente valorizava demais a aurora e o crepúsculo. Porque a gente fazia festinha na casa dos amigos toda semana, porque a gente morava em casas, porque a gente namorava firme (mas “dançava” nos bailinhos com todas); porque a gente viajava junto, dez, vinte de cada turma da escola; porque a gente tinha uma turma na escola e não esses mini “grupos” de três ou quatro das escolas de hoje; porque a gente não jogava vídeo-game; porque "nossos emails" eram tardes de rolê na rua e bolo de chocolate na casa dos amigos; porque amizade era coisa fácil, e amor, fundamental, era o que mais sonhávamos.
A coisa fundamental ainda persiste em raros, como o jovem Rodolfo, que poucas noites atrás, enquanto seus amigos só falavam em putaria, sexo fácil e descartável, ele se virou, xingou todo mundo e afirmou que “o que eu quero mesmo é um romance!”.
Pelo menos ainda tenho o surf e esse raro lugar, o oceano, onde ainda posso ver o sol nascer (a esperança) e a noite (medo, a vida ficando pra trás, correndo rápida, “depressa demais” como diz o roqueiro louco Lobão) chegar.
E ainda consigo acreditar que uma grande mulher, simples e bela como esses instantes mágicos do dia, ainda vai chegar feito uma canção do Paralamas.
Mas, como a vida ensinou, espantemos as pirações, porque não há nada nada mais maravilhoso que viver e fazer de cada amanhecer um coquetel de brincadeiras, sonhos, cabeçadas na lousa, tapas na orelha carinhosos, palavras, canções e filmes compartilhados em meu "trabalho" como professor; esporte feito com tesão e por terapia, palavras e palavras lidas e escritas, aqueles abraços dos amigos, solos de guitarra, gritos com a alma e o amor pelas mulheres com a mesma lei do sábio Rodolfão: com romance.
Salve, salve, sol e noite!!! Salve, vida e, lembrando outro sábio, o Gutão, “Barbudo!!!!!!!!!!! Manda umas ondas pra gente!!!!! Gozado que toda vez que o louco gritava assim (chocando a galera estranha no pico), acho que Netuno ficava com dó do maluco e não é que vinha onda?!
(08.11.2005)
(Hoje, três anos depois desse texto, o Gutão já mora na praia há alguns anos, virou professor de Educação Física e graças à indicação dele passei todo este 2008 dando aula no litoral pra uma molecada sensacional e ainda pegando onda toda 2a. feira depois das aulas. Pena que a escola acaba de fechar e o sonho de trabalhar na praia foi interrompido. Que Netuno dê uma força, pô, Barbudo, descola outra escola pra mim na praia!)
* PS - Curtam o rock brazuca anos 80 na barra lateral do Cineminha, o 2o. e 4o. vídeos dão uma bela retrospectiva!

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