sexta-feira, dezembro 05, 2008

Viagem sem fim


“A vida é muito curta pra gente ficar repetindo os caminhos” (Amyr Klink, falando direto da Antártida - rodeado de gelo e gelo, sozinho, com seu barco e seus sonhos de nunca parar de explorar o mundo - no magnífico documentário Mar sem fim, exibido pelo GNT).
Como podemos nos intitular viajantes quando nos deparamos com um explorador chamado Amyr Klink, o brasileiro que atravessou o Atlântico num barco a remo e depois o mundo, pela terrível rota mais sul possível, farta em tempestades, ondas de até 15 metros e um frio extremo, no círculo polar?
Se não podemos correr o mundo como Amyr, por faltar coragem (e dinheiro), nada nos impede de empreender outra viagem, tão maravilhosa e árdua: a travessia dos corações humanos.
Amyr vai longe, em jornadas incomparáveis, fartas em experiências fantásticas. Mas e os que ficam e tentam conhecer, profundamente, um lugarzinho ou as outras pessoas?
Amyr se entrega ao oceano infinito, aos mistérios mais desconhecidos da Terra. Outros, cada vez mais raros, entregam-se à descoberta do coração humano. Pena que muitos não entendam e não permitam serem navegados pelos corações azuis desses marinheiros da vida.
Talvez as montanhas brancas, de geleiras e icebergs, que Amyr descobriu sejam menos inóspitas que algumas pessoas que estimamos e com quem tentamos nos relacionar. Não dá para entender, por exemplo, a frieza dos que partem de nosso porto-amizade para nunca mais voltar.
Ou será que eles é que têm razão, em suas eternas viagens sem olhar para trás, tocando a vida e novos portos?
Sim, precisamos nos contentar um pouco em sermos apenas boas lembranças para esses viajantes que nunca regressarão. Pois sabemos que em algum momento, fomos nós o mar sem fim que inspirou esses corajosos exploradores que olham a vida e o mundo como a próxima viagem.
Mas quem sabe um dia não olhem uma velha fotografia
descubram uma carta antiga
ou escutem, em um lugar distante,
aquela velha canção,
chamada amizade ou amor verdadeiro.
(30/03/2004)

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