sábado, agosto 15, 2009

40 anos de uma utopia


Talvez o mais belo momento da história do rock. Joe Cocker emocionando o festival de Woodstock e toda uma geração ao cantar que não seríamos nada sem uma pequena ajuda de nossos amigos. E ele ainda seguiria emocionando até gerações futuras, como as que tiveram o privilégio de assistir quando crianças ou adolescentes o seriado Anos Incríveis, em que os créditos iniciais vinham com a mesma canção eternizada pela voz rouca apaixonada de Cocker. Um dos símbolos maiores do festival, Cocker expressou como poucos a loucura e amor que explodiu em paz durante aquele festival dos festivais.
Woodstock, que faz 40 anos hoje, não foi um mero e pioneiro festival de música. Foi uma tentativa, bem-sucedida, de celebrar três dias de paz, amor e música, como prometia o slogan do evento. Em plena época da Guerra do Vietnam e intolerância contra os negros nos EUA, centenas de milhares de pessoas reuniram-se apenas para curtir um bom som ao ar livre e conhecer novas pessoas, para fazer amigos ou sexo. Antes da AIDS, o lugar, uma pequena fazenda, celebrou também o sexo livre e sem compromisso, feito ali mesmo e marcou o livre uso de drogas de todo tipo. Drogas que levariam à morte pouco tempo depois alguns dos ícones maiores do festival, como Jimmy Hendrix e Janis Joplin.
Woodstock jamais se repetirá porque há cada vez menos espaço e vontade para protestos e celebrações por um mundo melhor na música e mercado de hoje. Os festivais e shows de hoje viraram um produto como outro qualquer. Ganharam o nome dos seus patrocinadores e foram esvaziados de sentido político e social porque o público, na maioria jovens sem a mínima consciência ou interesse político e social, vai lá só para curtir o som. E um som que, tristemente, muitas vezes é apenas um estilo comercial programado para se repetir e faturar, com letras vazias e repetitivas.
Raros artistas ainda conseguem semear algum tipo de mensagem e vontade coletiva como um Pearl Jam, Neil Young ou Bruce Springsteen, que lideraram nos EUA, por exemplo, os shows do Vote for change, em defesa da renovação prometida por Obama. Houveram também os festivais simultâneos (mas de um dia só) dos Live AID e Live 8, organizados por Bob Geldorf, em prol dos miseráveis da África e da salvação do meio-ambiente, mas foram atos isolados raros, e até criticados - pelos pobres de espírito e cínicos - como eventos paliativos. Esses mesmos céticos sempre criticam o discurso político de Bono e seu U2, esquecendo que apesar de toda a megalomania, Bono é um dos artistas que mais arrecada e trabalha pela melhoria das condições de vida em alguns lugares esquecidos da África.
Mas voltemos a Woodstock e a beleza de ter reunido nomes como Santana, The Who, Creedence Clearwater Revival, Joe Cocker, Hendrix, Janis, Joan Baez e outros grandes nomes. Voltemos a um tempo em que músicos tinham a coragem e genialidade de criticar, ao vivo, a estupidez da guerra. Assim fez Hendrix ao imitar o barulho das bombas jogadas pelos americanos no Vietnam, e fazendo isso em plena execução do hino americano na sua guitarra! Anos depois, o Brasil dos anos 80 viu Cazuza e Renato fazendo algo parecido, metendo pau nos políticos corruptos nas canções Brasil e Que país é esse? Pena que Hendrix e os grandes heróis do rock brazuca estão mortos e hoje, especialmente aqui, fomos invadidos por um bando de grupinhos juvenis cantando histéricos e sem melodia seus amores frustrados e outras overdoses açucaradas feitas pra adolescente chorar. Será que por isso que o Roberto Medina, criador do Rock In Rio, levou, há anos, o festival para Portugal? Talvez ele tenha previsto que Barão, Legião e Cia seriam substituídos por Fresnos, Strikes, NXZeros à esquerda e outras apelações... Outras pobrezas musicais ementais que não têm a mínima noção do valor e poder de uma canção como With a little help from my friends e sua inesquecível, poderosa e catártica versão de Joe Cocker (tá, completamente chapado...) em Woodstock.
Woodstock morreu. É apenas uma lenda distante. Uma lenda barata (18 dólares era o pacote de três dias de dezenas de shows diários!). Imaginem o preço dos ingressos de um evento desse como hoje... Seriam preços obscenos como os cobrados em todo grande show aqui no Brasil.
O sonho da paz e amor dos hippies e jovens ativistas políticos e sociais dos anos 60 acabaria logo. Dois anos depois o Festival de Altamont, nos mesmos EUA que ofereceu Woodstock, terminou em violência e morte de um jovem negro, espancado pelos seguranças do evento, os selvagens motoqueiros dos Hell´s Angels.
Hoje, muitos críticos tentam diminuir Woodstock, resumindo-o como um encontro de doidões apenas a fim de fazer sexo e pirar nas drogas. Não aceitam que Woodstock foi uma bela tentativa de mudar o mundo. Não aceitam porque são a espécie mais comum hoje: os covardes que acham ridículo alguém ainda querer mudar o mundo nesses tempos cada vez mais mesquinhos e individualistas.
Leiam as reportagens e os livros sobre Woodstock. Aprendam um pouco sobre o que era fazer música por amor, como protesto e com um sentido que não fosse encher o bolso. Leiam os livros e vejam os DVDs dos shows. Entendam que este já foi um mundo de esperança e música, sobretudo o rock, de verdade. Podem começar por esse belo programa especial do canal Globo News, cujo link de texto e vídeo mando aqui: http://tinyurl.com/mdm3lz

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