segunda-feira, setembro 14, 2009

O homem que não desistiu


Rubens Barrichello é um fenômeno. Poucos pilotos na história da Fórmula 1 foram tão criticados como ele, por trapalhadas nas pistas, pela subserviência às ordens da Ferrari, nos anos Schumacher, pela incapacidade de vencer etc etc. Mais que isso, talvez nenhum outro tenha sido tão ridicularizado, nos bastidores da F-1 e em seu próprio país. No Brasil em que virou personagem de chacota na TV. No Brasil que quase sempre o tratou com seu apelido mais debochado: Pé de chinelo. Rubens é um fenômeno porque qualquer outro piloto já teria abandonado as pistas após tantos fracassos e críticas. Tentaram até o aposentar várias vezes, na mídia, nos últimos anos, mas ele permaneceu. Mais que isso, deu uma das mais incríveis lições de persistência da história do automobilismo (não digo “esporte” porque não é esporte uma modalidade tão suja e vinculada ao poder da grana como essa, Nelsinho Piquet e seu caráter tão feio quanto o de seu chefe, que o diga...).
A persistência de um cara que seguiu lutando e hoje é sério candidato ao título mundial, aos 37 anos, porque evoluiu como piloto. E não é um feito admirável um piloto cada vez mais velho que vem se tornando cada vez mais rápido e, ao mesmo tempo, controlado?
Sim, penso que Rubens (até o nome dele pronunciamos diferente hoje, sem o diminutivo...) mereceu boa parte das críticas, por muitas demonstrações de falta de habilidade que geraram batidas ou quebras do seu carro. E também pelo lamentável episódio em que deixou Schumacher passá-lo numa corrida de final vergonhoso. Eram ordens da equipe, declarou Rubinho na época, mas o Brasil que já teve a personalidade forte e o talento de Emerson, Piquet e Senna acreditou que esses três mitos jamais teriam lambido as botas de Schummy como ele aceitou fazer.
O caso é que, domingo, Barrichello fez mais uma bela corrida no tradicionalíssimo GP de Monza e segue vivo na luta pelo título, agora 14 pontos atrás de Jenson Button, seu companheiro de equipe na Brawn GP.
Por isso tudo, Rubinho, perdão, Rubens, seria o campeão mais inesperado e formidável da história da F-1. Mais que isso, seria uma força e inspiração para todos aqueles que foram depreciados vida afora.
Faça então o milagre desse título, Rubens!, torço por você (eu, que tanto meti o pau e o sacaneei...) para mostrar como o esporte pode ser maravilhoso e redentor. E digo esporte, e não automobilismo, porque suas performances e equilíbrio esse ano são dignas de um campeão. Depois de muitos anos, aposto que muitos brasileiros, que nunca mais viram uma corrida depois da morte de Senna, grudarão os olhos na telinha dia 27 de setembro, para o GP de Cingapura. Esperamos, então, que Rubens já tenha enterrado o Rubinho do passado.

2 comentários:

  1. É isso ai Zé, o cara estpá merecendo esse ano. Concordo em relação a sua submissão nos tempos do frio alemão, mas o cara sempre teve a simpatia, simplicidade e pricipalemnte determinação. Confio e torço para que ele seja o campeão de 2009 e que vença o GP Brasil, o qual nunca venceu, seria mto bom vê-lo no alto do pódio no Brasil cantando o hino nacional. Diria que ele hj merece um "Eye of the Tiger". Abraço.

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  2. Acredito que SUCESSO só se alcança com dois ingredientes raros: TALENTO e ESFORÇO, muito ESFORÇO.

    O Rubinho* é esforçado. E ponto. Ele é aquele típico aluno nerd que estuda, se mata, nunca chega atrasado, senta na primeira carteira e sempre anota cada palavra que o professor fala. E no fim, até consegue passar de ano sem enfrentar a recuperação, mas nunca vai ser o mais pop da turma.

    É isso, Zé. Ele não tem talento. Não nasceu com o dom de um Schumacher ou Senna. E é até covardia compará-lo aos dois.

    Rubinho é apaixonado pela F-1. Isso é inegável. Ele tem garra, tem força e coragem. Mas isso não é o bastante, Zé. Ele não tem aquele brilho que os campeões têm.

    Nunca desgostei do Rubinho, mas já me irritei com sua passividade, com sua brandura. E quase explodi a televisão quando ele deixou o Schumacher vencer aquele GP! Foi uma cena patética, ridícula e inaceitável. Acho que nem o alemão acreditou! Deve ter se sentido até constrangido.

    Mas não dava pra esperar outra atitude do Rubinho. Porque ele é "gente boa" demais para encrencar "à toa". Ele é brando, calmo, bonachão. E não tem talento. Enfatizo isso, porque, para mim, essa é a única explicação cabível para esse caso.

    Fosse ele um Senna, um Schumacher, acha mesmo que ele teria engolido esse sapo do tamanho de um elefante?!

    Ele se deixou ser humilhado, porque sabia que perderia a escuderia e poria em risco sua própria carreira se vencesse aquela corrida.

    Sempre vi nos olhos de Rubinho uma certa "pena". Parecia que ele tinha dó de si mesmo. Ele tinha cara de "coitadinho". Talvez por isso tenha sido tão zoado, ao longo da carreira.

    Sim, ele mudou, cresceu, se tornou mais ágil, melhor nas pistas. Se mostra agora mais maduro, mais confiante e determinado.

    Esforço, esforço, esforço. Não vai além disso, Zé.

    Se ele for campeão esse ano (e eu torço para isso - embora não acompanhe F-1 desde a morte do Senna), vai ser mérito dele. Vai ser uma conquista suada pura raça e obstinação. Uma conquista forçada até o limite.

    Ainda assim, acho que não vou conseguir enxergar um verdadeiro campeão, um: "Rubens, Rubens, Rubens Barrichello do Brasil".

    *Não o chamo de Rubinho por desrespeito ou para menospreza-lo, mas acho mais carinhoso usar o diminutivo e acho que orna bem com o jeitão "bom moço" dele.

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