quarta-feira, outubro 21, 2009

O melhor e o pior do Brasil


Não admiro quem apenas critica seu país e não faz nada para melhorá-lo. Piores são os que debocham do Brasil, valorizam tudo o que é estrangeiro e menosprezam o que é nosso. Acho corajosos os que vão embora tentar a vida, por oportunidades de carreira, em outro país. Só que mais bravos ainda são os que ficam e tentam a grandiosa tarefa de trabalhar por esse país e sua gente. O país e sua cidade estão cheios de problemas? Essa gente valente não quer saber. Quer é valorizar o que há de bom. Quer é semear esperança. Quer é arregaçar as mangas e fazer alguma coisa que não seja apenas para si mesmo. Quer é ficar e lutar.
Antes de me acusarem de pequeno, nesse mundo em que muitos atacam antes de esperar o raciocínio completo, afirmo que poucas coisas me ensinaram mais que viajar. Só que tudo o que aprendi e conheci de outros povos e culturas quero é utilizar aqui. Tento utilizar aqui. Tento, por exemplo, mostrar o que vi, li, escutei e senti para meus alunos. Muitos escutam. Outros muitos preferem não sair de seus mundinhos em que não cabe nem o seu país.
Pena que muitos achem a luta em casa uma perda de tempo, pois muitos jovens valorizam mais quem consegue uma bela carreira no exterior e ganha uma bolada ao invés de quem permanece no Brasa ganhando menos e sofrendo mais.
Por isso admiro tanto os que vão e voltam. Os que voltam e trazem o que aprenderam lá fora para melhorar sua pátria, seu povo, seu lar. Assim fez Raí, que poderia, após 5 anos de Paris, ter ficado lá mesmo, assumindo um belo cargo no Paris Saint-Germain e dando uma vida segura e farta em cultura e oportunidades para suas filhas. Mas ele preferiu voltar e criar uma Fundação para dar uma chance para os que não têm quase nada. Raí, que trocou Paris por São Paulo, cabe direitinho num poema em prosa de um escritor mexicano, José Emilio Pacheco: “Não entendo suas razões para amar um lugar desesperador e sem esperança. Ou talvez exista a esperança porque você está aqui mais uma vez e enche de luz outra estação sombria.”
É muito fácil meter o pau em nossa selva neurótica, agressiva, estressante e barulhenta. Mais difícil é ajudar a humanizar São Paulo.
Muito mais fácil é meter o pau na escolha do Rio para a próxima Olimpíada e dizer que só vão roubar (como se não fossem seguir roubando sem a Olimpíada).
Mais difícil é pensar em projetos e ações para aproveitar a excepcional oportunidade de nos tornamos uma nação esportiva. Uma nação com mais atletas e, isso é quase inversamente proporcional: menos jovens marginais.
Não sei cantar o hino nacional nem admiro a maioria dos brasileiros famosos de hoje. Mas fico emocionado e feliz a cada cumprimento educado e sorriso que ganho da gente humilde que anda e luta pelas ruas. A cada pobre morador de barraco que guarda um atleta abnegado, como o Jornal Nacional mostrou hoje na bela matéria sobre o menino pernambucano de 14 anos que faz lançamento de martelo, uma prova em que o Brasil não tem nenhuma tradição. Incrível a raça, vontade, paixão e esperança desse menino e seus companheiros que treinam com tênis rasgados que precisam ser preenchidos com papelão para não rasgarem nos seus pés enquanto giram o corpo violentamente para lançar o martelo.
Esse é o Brasil de verdade. Os super-heróis do povo. Pena que sejam considerados gente menor por muitos. “Você gosta de contar essas histórias de gente humilde que sofre, dá duro e chega lá, né?”, me perguntou há pouco tempo um senhor sobre os personagens de meu livro de esportes. Na hora pensei ser um elogio mas logo percebi que ele na verdade desprezava esses que ralaram tanto. Talvez por achar o esporte e o nosso povo coisas pequenas.
Errado. A verdade é que temos um povo enorme, que só precisa é ter oportunidades. Que só precisa do apoio de brasileiros de verdade. De brasileiros que podem conhecer o mundo mas não caem nessa bobagem globalizante e consumista de que somos cidadãos globais. Somos o nosso país. Depois somos mundo. E devíamos ter consciência e orgulho disso.
Quem não tem que vá pra Miami ou não nos atrapalhe com seu derrotismo ou egoísmo.
* Rainha Marta ilustra esse texto por ser uma rara estrela bem-sucedida no exterior que veste com amor e entrega a camisa de seu país e de um clube brasileiro. E ainda luta para suas companheiras de futebol feminino terem mais chances na carreira.

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