segunda-feira, novembro 09, 2009

E os outros muros?


20 anos depois da queda do Muro de Berlim, muitos outros muros continuam de pé ou sendo erguidos pela vontade de opressão, controle e poder de governos e/ou de seus aliados econômicos. Mais sobre isso na bela cobertura do Jornal do Brasil:

“(...) a Queda do Muro foi tanto um símbolo do que estava ocorrendo no mundo, quanto uma realidade para a população que o atingiu. E que símbolo! A euforia inicial levou muitos a comemorarem o suposto fato de que nunca mais haveria muros para separá-los de novo... Foi um mal entendido.
Hoje, vemos que a Queda do Muro não simboliza o fim de todos os muros e divisões, mas um indício de que todos os muros podem ser destruídos. Isso foi o que aconteceu depois de 1989 na África do Sul. Mas muitos muros – tanto visíveis quanto invisíveis – foram erguidos desde 1989 e ainda estão sendo erguidos.
Os muros que mantêm oprimidas a população de Cuba e Coreia do Norte, de Burma e Irã mostram rachaduras, e vão cair. Os muros nas fronteiras dos EUA e ao redor de Israel para manter as pessoas afastadas também vão desaparecer no tempo devido. As divisões ideológicas e físicas do mundo são instáveis e mudam à medida que interesses pragmáticos também mudam.
O mundo depois da Queda do Muro tornou-se um lugar muito mais desorganizado e desorientador. Mas também é um lugar onde mais pessoas são capazes de buscar o que consideram a felicidade delas. Isso é motivo para comemorar.”
(Peter C. Pfeiffer, Diretor do Centro de Estudos Europeus da Universidade de Georgetown, EUA)

“Demolido o Muro de Berlim, seria bom recrutar os amantes da liberdade do homem, que saudaram o fim da barreira, para que outras muralhas também fossem destruídas. Podemos começar pela grande muralha que separa os Estados Unidos da América Latina, na fronteira do México. Segundo cálculos das entidades que combatem o grande muro, mais de 7 mil pessoas morreram, tentando atravessá-la. Alguns pereceram de fome, de frio ou de calor, no deserto.
Outros foram abatidos a tiros, não só pelas forças norte-americanas que patrulham a fronteira mas, também, por assassinos “voluntários”, que possuem propriedades nas proximidades da linha divisória e usam rifles com mira telescópica infravermelha.
Quando os americanos propuseram ao México a associação ao Nafta, um dos argumentos era o de que o país se desenvolveria, a ponto de absorver a mão de obra desempregada que, assim, não iria disputar empregos com os norte-americanos ao Norte. Quase todas as semanas há novos mortos ao tentar o eldorado norte-americano. A imprensa já deixou de noticiar a rotina dos que tombam ao longo da muralha, feita de alambrados, de pontões de concreto, de luzes estonteantes, de câmaras infravermelhas, de helicópteros que voam, dia e noite, caçando os migrantes, como se caçam animais.
Temos também o grande muro que separa os israelenses de palestinos. Esperemos que ele também seja destruído, para que a paz retorne aos caminhos que Cristo trilhou.
(...)
Um longo muro separa o México dos Estados Unidos, e a sua construção, queiram ou não, obedece às mesmas razões pelas quais os alemães do Leste erigiram o seu. No Rio, pretendem levantar cercas, a fim de controlar as favelas. Os novos e ricos condomínios urbanos brasileiros se fazem cercar de muralhas, protegidas eletronicamente, com sentinelas atentas e armadas, de trecho a trecho, imitando a famosa Linha Maginot, que os alemães desdenharam, ao invadir a França pela Bélgica. Estamos todos cercados de muros, circulamos nas cidades dentro de veículos – que são muralhas de aço blindado. No alto dos edifícios, em seus corredores, nos elevadores, as câmaras vigiam, como as seteiras das antigas muralhas. As muralhas mais sólidas e impenetráveis são as ocultas, que separam os homens ricos dos homens pobres.
Um longo e invisível muro – semelhante à Linha de Leibniz – passa pelas ruas, penetra as igrejas e ladeia os pontos, ou seja, as pessoas, deixando, em campos separados, por mais próximos pareçam estar, uns homens e os outros.
Recentes estudos do Ipea dividem a sociedade brasileira em três classes de renda. As duas classes inferiores são tão inferiores que é um absurdo considerá-las estatisticamente.
A terceira – que segundo o Ipea é a de renda individual mais alta – começa com o salário mínimo atual. Assim, de acordo com esse critério, uma família de quatro membros com a renda total de dois mil reais se encontra na faixa mais alta de renda. Mas, não obstante a conclusão estatística, altíssimo muro as separa da minoria de renda realmente alta no país."
(Mauro Santayana, colunista do JB).

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