quinta-feira, fevereiro 25, 2010

A coragem da patinadora Joannie (Vancouver 2010)


Ela perdeu a mãe e grande incentivadora dois dias antes de sua estreia nestes Jogos Olímpicos de Vancouver 2010. A mídia especulava se ela iria abandonar os Jogos ou, se continuasse, se teria forças para competir bem. Teve, sim, talvez porque após a perda da mãe, o lugar mais próximo de lar e amor que conhecia era um rinque de patinação.
Veio então a noite de sua estreia, para a qual se preparara a vida toda: defender o seu país na competição máxima da patinação artística. Mas como um coração dilacerado poderia se concentrar em modalidade tão técnica, e ainda individual, em que seria ela, e só ela, lá fora na grandiosa arena de gelo do Pacific Coliseum? E ainda seria ela, sozinha, a suportar nas costas a esperança de todo o seu Canadá, competindo em casa, no seu próprio país.
A resposta foi um autocontrole de guerreira ferida suportando a pior das perdas em pleno campo de batalha. A resposta foi uma daquelas atuações que entraria para a história do esporte. A resposta foi a sincronia exata da música escolhida para sua apresentação - um dramático, triste e poderoso tango, La Cumparsita - com a tristeza no peito e a perfeição de seus gestos, deslizar e vôos. A resposta foi a bravura desta inesquecível Joannie Rochette, 24 anos, na noite de terça-feira: a jovem domou a perda insuportável e irreparável para provar que nem a tragédia derruba uma sonhadora com fibra de campeã.
Fibra, inquebrantável, teu nome é Joannie Rochette, a super-atleta e bailarina que só desmoronou nessa noite mágica quando encerrou sua apresentação. Aí sim não conteve mais as lágrimas e mandou uma mensagem num francês sussurrado para sua mãe, que os jornalistas não conseguiram captar exatamente, mas pareceu ser um “c´est pour toi, maman”, é pra você, mamãe. Mas antes das lágrimas, que “apenas” represara ela ainda conseguiu anotar a mais alta pontuação de sua carreira. Sim, justo no pior momento pessoal de sua vida ela ultrapassou seus limites e provou, mais uma vez, a beleza e valor deste esporte ainda nobre que habita em atletas como ela.
Esse esporte que vira magia e algo que é difícil de explicar e mensurar chamado superação. Talvez porque os grandes campeões nunca estão sozinhos. Talvez a melhor explicação seja meio mística, como as palavras da chefe de equipe canadense, Nathalie Lambert, sobre a exibição de gala de Joannie:
"I think her mother gave her wings." (Eu acredito que a mãe dela lhe deu asas).

* Joannie conseguiu a 3ª posição na noite inicial do programa de patinação artística. A batalha final será travada esta noite. Olho nos canais Sportv que deverão passar ao vivo. O ouro é quase impossível, pois as líderes, uma fantástica coreana e uma japonesa formidável, não deverão ser alcançadas. Mas o bronze será maior que uma vitória se reluzir no peito de Joannie, a jovem natural de Île Dupas, do Quèbec, o Canadá francês.

Um comentário:

  1. Formidável. Maravilhosa. A apresentação de Rochette me deixou perplexa, tamanha beleza e precisão. Sabe, Zé, acho que ela buscou no gelo o refúgio e o conforto que o coração precisava para encarar essa dor dilacerante. Foi emocionante. Lindo e triste demais. Também torço pelo bronze, pq o Ouro já parece ser da sul-coreana Yu-Na Kim e a Prata da japonesa Mao Asada.

    Beijo, Thaína.

    ResponderExcluir