domingo, abril 18, 2010

Osasco Campeão. Espetáculo para poucos


Antes de falar desta espetacular final brasileira, entre Osasco e Rio, 3 a 2 suado no tie-breaker para as paulistas, uma bronca: A Superliga feminina 2009/2010 (sim, o campeonato começou no ano passado pra quem não sabe) teve belíssimas partidas a temporada toda, mas só hoje, na grande final (em apenas 1 jogo, por quê?), a TV Globo - detentora dos direitos da competição - passou um jogo ao vivo. Quem quis assistir ao campeonato teve que se contentar com as transmissões em horários muitas vezes estapafúrdios do canal fechado da Globo, o Sportv. O terceiro e decisivo jogo da semifinal, por exemplo, entre Rio/Unilever e São Caetano/Blausiegel, passou no sábado passado, 9 e meia da noite. Só mesmo um fanático por vôlei pra encarar um horário desse em pleno sabadão.
Graças que hoje pudemos ver - em horário digno, a partir das 9h45 da manhã - a monstruosa atuação da jovem Natália, 21 anos, a ponteira que comandou o Osasco/Sollys na bola (maior pontuadora da partida) e na raça, pois inflamou sua equipe nos momentos decisivos. O que fez essa menina hoje é coisa digna das maiores performances da história do vôlei mundial. Mundial, sim, porque a Superliga ou campeonato brasileiro feminino, teve quase a totalidade das campeãs olímpicas de Pequim 2008 e jovens fenômenos como Natália.
A Natália que enfiava a mão, marcava, gritava e batia a mão no peito em cada pancada sem defesa que acertava na quadra do time carioca dirigido por um certo Bernardinho. A Natália que deu hoje uma das mais belas lições de amor ao esporte e garra da história do vôlei brasileiro. Impossível não se comover com a vontade e fúria positiva da menina. Talvez por isso até os comentaristas da Globo não tenham parado de falar lugares-comuns e bobagens quase o jogo todo. Destaque nesse quesito para o festival de obviedades da ex-jogadora e musa do vôlei, Leila. Sim, “ela está lá na telinha porque dá ibope”, diz minha sábia mãe. Mas será que não tem uma outra ex-jogadora que poderia, pelo menos, COMENTAR o jogo, e não ficar tietando ou dizendo 100 vezes “tudo pode acontecer”, como fez a Leila hoje?
De volta ao jogo, palmas também, no time campeão, para a excepcional libera Camila Brait, para a liderança tranquila da levantadora Carol, para as pancadas de Jaqueline e o bom trabalho pelo meio – com alguns vacilos – da cubana do Osasco, Adenizia. Sassá também esteve bem e, emocionada, já chorava ao pressentir o título no final do quinto set.
O choro que explodiu em todas as suas companheiras ao vencerem o jogo e desentalarem as três últimas Superligas que haviam perdido para o Rio.
O Rio de Bernardinho, sempre um brilhante treinador, mas confesso que anda difícil de aturar seus xingamentos, chiliques e explosões em cima das meninas durante os jogos. Por isso a vitória do muito mais contido e também grande treinador do Osasco, Luizomar Moura, foi tão bacana. O Luizomar que começou a temporada sem emprego (seu Osasco/Finasa havia sido extinto pelo Banco Bradesco no dia seguinte da derrota para o Rio na final da Superliga do ano passado) mas lutou, com apoio da mídia, e conseguiu remontar este time com novo patrocinador, a Nestlé.
Parabéns a essas campeãs tão guerreiras quanto talentosas e uma pena que a Globo siga relegando este evento e esporte tão vencedor no Brasil ao seu canal por assinatura. A mesma coisa acontece com a Superliga masculina, onde o monstro Giba, do Pinheiros, lidera um movimento para que os jogos tenham horários mais decentes e que passem mais na TV aberta (entre os homens, a Globo liberou alguns jogos para a Bandeirantes).
O vôlei não dá audiência ou a Globo que não se esforça para trabalhar esse belíssimo produto? Se depender de sua divulgação interna, com flashes de um minuto no Globo Esporte, e zero minutos no Jornal Nacional, é claro que a audiência não sairá de um evento (Superliga) que poucos conhecem. Mas o que esperar de uma emissora que deu seu noticiário esportivo diário (Globo Esporte) para as palhaçadas e ridículas matérias comportamentais do apresentador e manda-chuva do programa, Tiago Leiffert?
Uma pena. Continuaremos a ter que nos contentar com um horário decente e TV aberta apenas na final. E assim, fenômenos como Natália, que poderia inspirar tantas crianças e jovens, ficam escondidas do grande público até a próxima Olimpíada.
PS - A única foto da Natália que aparece no site da Superliga agora, horas depois de terminada a partida, é ela com Ronaldo, que ajudou na entrega das medalhas para as campeãs. "Sensacional" a assessoria de imprensa da Superliga, hein?! Essa mesma assessoria não mandou ninguém, por exemplo, para fazer a primeira partida de semifinal entre São Caetano e Rio, no feriado da Páscoa, num sábado.

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