segunda-feira, dezembro 27, 2010

A trilha de 2011


Final de ano é sempre um parto. Exaustos, só pensamos nas férias, numa praia ou qualquer lugar distante da neurose, barulho e suor do trabalho e vida cotidiana. Os que ainda não conseguiram partir se viram largados no sofá vendo filmes até tarde, lendo um bom livro ou escutando belas canções. Quem prefere a última opção, melhor ainda se puder curtir um som junto de sua companheira. Pra vocês então, acessem esse fantástico blog feito para uma noite daquelas... O nome do blog já diz tudo, Sex Music... É só apertar o play que o set list gigantesco começa a tocar e bandas famosas como The Killers e outras desconhecidas, como a ótima Iron & Wine, só querem que vocês tenham uma noite inesquecível.Cliquem em

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Dreams

(Pessoas que são canções)

We'll get higher and higher
Straight up we'll climb

Era a mais livre das meninas. Queria voar. E voava. Mais louco ainda, queria viver disso. A ginástica olímpica era seu sonho de vida. Passeávamos na praia e de repente ela dava paradas de mão, fazia estrelas e detonava a ignição daquela louca manobra. Um salto mortal para trás. Um voo tão bacana e alegre que sempre desconfiei que foi um desses que fez meu melhor amigo se apaixonar por ela.
Paty via o mundo de ponta cabeça, ao contrário. Ela fazia muitas coisas ao contrário. Numa época meio certinha e careta, o início dos anos 90, ela era uma legítima roqueira que ia no quarto dos amigos escutar o bom e velho rock and roll, especialmente a banda de seu coração, Van Halen. E era também uma guardiã dos sentimentos mais belos do passado, as amizades verdadeiras que geralmente são mais criadas quando somos ainda tão jovens.
O tempo correu demais. Enquanto seu amigo aqui - que sempre desejou ser, mais que amigo, irmão - andou em círculos e algumas ladeiras vida afora, Paty seguiu voando alto direto para os seus sonhos. Como um avião de caça, ela foi lá pra cima feito essa canção que é a cara e alma dela. Dreams. Do seu Van Halen.
O comecinho da música já é ela: o teclado clássico e belo é igual à olhada profunda que ela dá na gente com seus olhos pequenos mas intensos; e, quando ao teclado junta-se a bateria, e depois a guitarra e o canto, é hora dela falar com a gente com a mesma alegria e garra de viver que ela teve ontem, hoje e sempre.
O único problema é o tempo e a distância. Paty é treinadora lá no Qatar e por isso não a via há 3 anos e meio, desde o Pan do Rio quando ela veio, do Japão onde vivia, ser árbitra de ginástica.
Ela não sabe como os anos sem poder conversar com ela, cara a cara, fizeram falta.
Faz falta demais aquela com quem dividi alguns dos anos e momentos mais bonitos e intensos da minha vida.
Aquela que um dia percebi irmã talvez naquele show dos Stones em que tomamos 7 horas de chuva seguidas nos Pacaembu mas nos emocionamos juntos com a garra imortal de Mick Jagger, uma garra tão parecida com a dela.
Mas ontem a vi de novo, e no bar em que fomos, rolava, claro, rock. Scorpions, outra banda que participou um pouco de nossa história e juventude.
Ontem ela pôde me dar uma atenção de novo, pois, eu, egoísta, queria mais isso até do que saber do primeiro filho dela. Desculpa, irmã, mas era muito tempo sem te ver e sem contar com a sua força.
Mas saiba que de alguma forma me ajudou. Porque você, mesmo agora uma mãe, ainda possui aquele mesmo brilho, melodia e versos que só a sua banda conseguia mesclar com tanta perfeição. Por isso, de algum jeito aproveitei algumas coisas que me falou. Porque você segue sendo a Van Halen girl, por isso
we'll get higher and higher, leave it all behind. (vamos chegar alto, alto, deixe isso pra trás...vou tentar...

we'll get higher and higher, who knows what we'll find? Vamos chegar alto, alto, quem sabe o que vamos encontrar?

Obrigado por me fazer olhar pra cima de novo.
E vê se não demora tanto a voltar.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Paul - O homem que cantou nossas vidas

You and I have memories
Longer than the road that
stretches out ahead


Você e eu temos memórias
Mais longas que                 
a estrada que se estica adiante

Morumbi, 22/11/2010. Aquilo não foi um mero show, foi sim um encontro, foi história. Ali não estava um profissional entregando um serviço (coisa que Bono, infelizmente, vem fazendo há anos) e sim um músico oferecendo sua arte. Sim, havia um set list, mas a lista era na verdade uma retrospectiva de nossas próprias vidas, pois cada canção mexia com um sentimento especial de cada privilegiado (a) que esteve no Morumbi naquela 2ª feira inesquecível. Sim, claro que Paul é também um profissional, mas a alma do antigo menino de Liverpool ainda está lá, e quando ela está, cada nota, melodia e palavra nos envolve. Envolve-nos como um amigo do peito nos dizendo verdades, como uma mãe tentando nos aconselhar pela última vez (when i find myself in times of trouble, mother Mary comes to me speaking words of wisdom, let it be...), uma paixão nos assaltando de novo (close your eyes and i kiss you, tomoroy i´ll miss you... all my loving i´ll send to you) ou o próprio tempo e algum acontecimento em especial que resolve se revelar de novo, yesterday all my problems seemed so far away... , enquanto Paul canta algum dos hinos dos Beatles.
Enquanto Paul canta algum hino da maior banda de todos os tempos, canções que elevam ao máximo nossos corações e lembranças. Incrível como cada canção, para os que já viveram um bocado, resgatava um momento de nossas vidas.
Tudo começou quando ele sentou-se ao piano pela primeira vez, tocando notas que não eram meras notas mas as suas veias, as nossas próprias veias, ao cantar que a vida é uma the long and winding road, uma longa e larga estrada. Sim, a canção é de um amor partido, mas como em tudo dos Beatles, é tão bela nas melodias e palavras que sua dor, you left me standing here, a long, long time ago..., você me deixou esperando aqui, há muito, muito tempo atrás  é pulverizada pela beleza.
Pela beleza de um cara e uma banda que interpretaram e traduziram os sentimentos mais simples e verdadeiros com uma precisão poucas vezes equiparada por uma banda de rock, talvez porque poucas vozes soam tão cristalinas e naturalmente belas, sem gritos fora de tom, como as de Paul.
Por isso Paul foi especial, por isso que ouvi-lo naquela noite, e agora, nos vídeos deste show postados no youtube, de novo emociona, arrepia, pode até botar a emoção para fora numa lágrima que não é qualquer
E numa alegria que não é qualquer, porque, reafirmo, suas canções mais tristes são tão belas que nos elevam. Pelo poder da canção, pelo poder da música, pelo poder incomparável de Paul e de toda a mágica que ele um dia criou e entregou com seus três companheiros daquele grupo que era a vida traduzida em canto, guitarra, baixo, bateria e piano.
Pelo poder desse mago Paul, que conseguiu transformar a tristeza numa alegria inesquecível, como em Hey Jude: take a sad song and make it better, pegue uma canção triste e faça-a (torne-a) melhor. Faça-a feliz.
Quisera ser possível que pudéssemos escutar essas canções todos os dias, assim não deixaríamos de acreditar na esperança de cada canção dessa.
De cada emoção entregada por Paul, e pelas milhares de vozes que comungaram desses sentimentos juntas, naquela noite mais que memorável. Naquela noite fundamental. Portanto, vocês que estiveram lá, tentem lembrar do que viveram e sentiram. Os céticos dirão que foi apenas um show. Jamais entenderão o que foi aquele imensa verdade e beleza coletiva de milhares de pessoas, entre estranhos, amigos e amores, recebendo e devolvendo o mesmo amor pela música e pela vida.
Pela vida que é música. Que deveria ser sempre musica.
A síntese de tudo o que Paul nos proporcionou foi talvez esse par de versos dizendo que existirá uma resposta para nossos medos, sonhos e dores,
there will be answer
Let it be
Vai existir uma resposta, deixe rolar....
Sim, muitas vezes não há saída, e nos perguntamos
Why she had to go, i don´t know.
Now i need a place to hide away

Quando os amigos já não estão presentes, ou dispostos a nos escutar ou procurar, só contamos com nós mesmos, com o pai e com o maior amor do mundo, que é sempre o da nossa boa e velha mãe.
Podemos contar também com a força de Paul, de sua antiga banda e suas canções.
E contamos com a sabedoria e conselhos desta amiga que estará sempre lá, pronta para nos abraçar:
a música.
Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar.
All your life...

PS - Lá em cima, que John siga descansando em paz, 30 anos depois.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Muricy - O homem reto

Ele nem precisava provar mais nada de seu caráter depois de recusar a seleção brasileira porque seu clube e patrão não aceitou liberá-lo. “Não quebro meus contratos”, afirmou na época Muricy. Ninguém do mundo sujo da bola o criticou publicamente por isso mas muitos o julgaram tolo por essa recusa.
O tempo e talvez a justiça divina o premiaram com o título brasileiro mais sofrido de sua carreira, este, com o seu Fluminense. Com um time que sofreu tanto com contusões ao longo de todo o Brasileirão – Fred, Emerson Sheik jogaram muito pouco, Deco também ficou bastante tempo fora, o goleiro titular também e Muricy descobriu Ricardo Berna.
Para suprir a ausência de suas estrelas, o treinador soube formar um time de guerreiros mas que jogaram um bom futebol graças à regência e toque de bola deste gigante armador baixinho chamado Conca. O argentino foi o toque de classe deste Flu bicampeão brasileiro.
 Mas falemos do mais importante, porque quando se fala em Muricy a bola vira vida.
Vida porque diferente da maioria dos personagens no futebol brasileiro de hoje, promessas, estrelas e celebridades vazias e vaidosas, Muricy, ao falar de futebol, fala de coisas maiores.
E isso, num país tão cheio de malandros que usam todo artifício para obter vantagens, é importante demais. Enquanto a CBF e a FIFA, por exemplo, semeiam barbaridades atrás de barbaridades (Copa no Qatar é brincadeira, um “tô nem aí pro futebol!, quero é grana!”), Muricy, o homem reto, semeia nobres valores.
Reto da retidão não só de suas palavras como de suas atitudes.
“Agora é trabalho”, ele dizia no São Paulo, com a simplicidade sábia e digna de Rocky Balboa dizendo aquele “lutadores lutam”. E ontem, foi mais uma lição de vida escutar algumas de suas frases. Uma delas escutei na rádio ESPN Brasil. Enquanto falava de sua relação com seus jogadores, ele explicava que não faz diferença entre as estrelas e os jogadores menos badalados. Não concede privilégios, e isso é vital para ter um grupo unido. Muricy sintetizou isso então ao dizer que “não sou simpático, mas sou correto com os jogadores”.
Correto. Quantos se preocupam com isso hoje? Pior, quantos não dizem que ser correto é ser um tolo, um babaca?
Graças que Muricy se preocupa e talvez por isso o Mestre e Homem maior da história de nosso futebol tenha aparecido para ele em sonho, na véspera da decisão para o Flu: Sim, só mesmo Muricy para ser agraciado com a presença de Mestre Telê Santana em seu devaneio tão real antes da consagração de ontem.
Lá vai então Muricy Ramalho, conquistando com correção, caráter e dignidade o que muitos, neste país, só obtêm com tramoias, acordos, subornos e outras sacanagens: a vitória.
O Mestre está orgulhoso lá em cima.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Val(h)a-me, Deus!

Plena 5ª. feira, enquanto a galera de Sampa fritava em trabalhos insuportáveis (é sempre insuportável trabalhar em dezembro, ninguém aguenta mais) eu ria feito bobo pelo privilégio de ser um freelancer e poder entrar no mar. Era muita sorte eu ter marcado uma entrevista com um mito do surf brasileiro na praia justo neste dia, mas antes eu iria surfar. A previsão acertara em cheio: o único dia com chances de algumas boas valinhas era esse. Melhor ainda que o vento não dera as caras e as meninas azuis-esverdeadas estavam lisinhas como pele de mulher gostosa que se cuida (é o verão hehe). Por isso que gritei sozinho, ao olhar as valas, “Vala-me Deus!”
Logo curtia uma session em solitário, o que é comum durante a semana neste pico incrustrado em um condomínio gigante.
Logo uma de minhas pranchas mágicas, uma Evolution vampiresca (agarra as paredes como uma vampira metendo os dentes no pescoço de sua vítima) feita pelo grande Kareca da Shine surfboards, me levava a passear em alta velocidade. Não tem erro, quando o mar diminui de tamanho essa menina sedenta me deixa em condições de surfar qualquer coisa minimamente surfável.
Depois de uma session rápida, 90 minutinhos, a cabeça tava feita. Bora trabalhar no litoral norte. Na volta ao meu pico, o vento fizera sua caca, mas mesmo assim entrei, torcendo pra chuva que pintava alisar as meninas.
“Vai, Santo Pedro!, manda a bala, beija as meninas com vontade!”, eu gritava, mas o Santo só mandou uma chuvinha leve. Raras merrecas (é, o tamanho diminuiu ainda mais) deram uma ajeitada. E aí, meus camaradas, as poucas valinhas que acertaram, junto com a chuvinha gostosa batendo no rosto, aí o sorrisão invadiu o rosto. Lá fora, com o oceano preenchendo o coração vazio, a felicidade, mesmo tão breve, renova a vontade de viver.
O surf sempre renova, qualquer surf.