quarta-feira, dezembro 15, 2010

Dreams

(Pessoas que são canções)

We'll get higher and higher
Straight up we'll climb

Era a mais livre das meninas. Queria voar. E voava. Mais louco ainda, queria viver disso. A ginástica olímpica era seu sonho de vida. Passeávamos na praia e de repente ela dava paradas de mão, fazia estrelas e detonava a ignição daquela louca manobra. Um salto mortal para trás. Um voo tão bacana e alegre que sempre desconfiei que foi um desses que fez meu melhor amigo se apaixonar por ela.
Paty via o mundo de ponta cabeça, ao contrário. Ela fazia muitas coisas ao contrário. Numa época meio certinha e careta, o início dos anos 90, ela era uma legítima roqueira que ia no quarto dos amigos escutar o bom e velho rock and roll, especialmente a banda de seu coração, Van Halen. E era também uma guardiã dos sentimentos mais belos do passado, as amizades verdadeiras que geralmente são mais criadas quando somos ainda tão jovens.
O tempo correu demais. Enquanto seu amigo aqui - que sempre desejou ser, mais que amigo, irmão - andou em círculos e algumas ladeiras vida afora, Paty seguiu voando alto direto para os seus sonhos. Como um avião de caça, ela foi lá pra cima feito essa canção que é a cara e alma dela. Dreams. Do seu Van Halen.
O comecinho da música já é ela: o teclado clássico e belo é igual à olhada profunda que ela dá na gente com seus olhos pequenos mas intensos; e, quando ao teclado junta-se a bateria, e depois a guitarra e o canto, é hora dela falar com a gente com a mesma alegria e garra de viver que ela teve ontem, hoje e sempre.
O único problema é o tempo e a distância. Paty é treinadora lá no Qatar e por isso não a via há 3 anos e meio, desde o Pan do Rio quando ela veio, do Japão onde vivia, ser árbitra de ginástica.
Ela não sabe como os anos sem poder conversar com ela, cara a cara, fizeram falta.
Faz falta demais aquela com quem dividi alguns dos anos e momentos mais bonitos e intensos da minha vida.
Aquela que um dia percebi irmã talvez naquele show dos Stones em que tomamos 7 horas de chuva seguidas nos Pacaembu mas nos emocionamos juntos com a garra imortal de Mick Jagger, uma garra tão parecida com a dela.
Mas ontem a vi de novo, e no bar em que fomos, rolava, claro, rock. Scorpions, outra banda que participou um pouco de nossa história e juventude.
Ontem ela pôde me dar uma atenção de novo, pois, eu, egoísta, queria mais isso até do que saber do primeiro filho dela. Desculpa, irmã, mas era muito tempo sem te ver e sem contar com a sua força.
Mas saiba que de alguma forma me ajudou. Porque você, mesmo agora uma mãe, ainda possui aquele mesmo brilho, melodia e versos que só a sua banda conseguia mesclar com tanta perfeição. Por isso, de algum jeito aproveitei algumas coisas que me falou. Porque você segue sendo a Van Halen girl, por isso
we'll get higher and higher, leave it all behind. (vamos chegar alto, alto, deixe isso pra trás...vou tentar...

we'll get higher and higher, who knows what we'll find? Vamos chegar alto, alto, quem sabe o que vamos encontrar?

Obrigado por me fazer olhar pra cima de novo.
E vê se não demora tanto a voltar.

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