sábado, janeiro 01, 2011

O caminho mais difícil


Às vezes não importa quanto de bem alguém distribuiu em sua vida, pois certas quedas fazem o desespero dela esquecer o tamanho de seu coração. A fronteira entre toda a bela luta já realizada e o futuro negro que se vê ante um erro que se comete, é tênue demais. O abismo é logo ali e é muito fácil ir ao seu encontro.
Desistir de tudo é um dos temas principais desse monumental A felicidade não se compra. A história gira em torno de um homem e uma família genuinamente bons, os Baileys. Genuinamente bom é a marca dos que colocam o bem acima de tudo. Fazer o bem. Essa é a vida de George Bailey desde menino. Um moleque que sempre cuidou dos outros, mesmo tão novo. Mas sua história não é uma dessas fábulas modernas fáceis do cinema de hoje, em que os jovens conquistam tudo o que sonharam.
Sim, o jovem George também sonha demais, quer estudar e conhecer o mundo. Quer deixar a sua pacata cidadezinha sem grandes oportunidades e riquezas. Quer pegar a estrada e construir a sua própria história. O “problema” de George, porém, é um coração e caráter maiores que seus sonhos. Mesmo tão puro, ele percebe o que acontecerá com sua cidade caso o negócio da sua família, um banco popular, seja engolido por um empresário inescrupuloso.
Revelar mais estragará as surpresas e emoções grandiosas deste clássico do mais idealista dos diretores, Frank Capra.
Só posso adiantar que George não lutará sozinho. Haverá uma mulher, daquelas que entendem o valor de um coração altruísta. Haverá outros homens, que entendem o valor de um homem bom. Haverá uma grande batalha entre o bem e o mal, este representado por um senhor de terras e dinheiro tão parecido com os senhores egoístas de qualquer época. Haverá a luta do dinheiro que compra a felicidade contra a felicidade que só depende do amor, da amizade e de uma palavrinha tão vital e meio sumida hoje, dignidade.
Haverá uma catarse tão grande na meia hora final deste filme, que desistiremos de desistir.
Se algum dia você se perdeu e não encontrava a saída, o magistral James Stewart e seu comovente e tão real George Bailey, vai te mostrar um caminho. Junto de Mary – outra atuação epidérmica, visceralmente delicada e afetuosa, por essa maravilhosa atriz Donna Reed – George nos mostrará que nada pode deter um coração generoso. Porque atos de amor em série produzem, num mundo decente e menos egoísta, gratidão em série.
Pena, talvez, que George, Mary e Frank Capra venham de um mundo antigo, de valores mais fortes que status. Pena que muitos jamais verão um filme tão antigo (de 1946) como esse, ainda em preto e branco.
Pena que o feliz título dado ao filme no Brasil não seja verdade para um número de pessoas cada vez maior.
Pena que hoje, algumas pessoas que ainda se esforçam em fazer o bem, chegam ao Natal e ao ano novo sem nem ao menos escutar na última noite um simples “feliz ano novo”. Para essas pessoas, sorte que ainda existem um desses raros "filmes da vida" como A felicidade não se compra. Porque a arte, nesta dimensão, conforta até os que deixaram de acreditar.

Feliz 2011, com mais amor e amizade no coração, sobretudo para as horas mais difíceis de quem precisa. Esqueçamos um pouco nossos mirabolantes planos e metas pessoais e pensemos, em vez de ter um ano melhor, em oferecer um ano melhor.

2 comentários:

  1. Como sempre um texto bacana. Direto!
    Façamos então um ano melhor em 2011.
    Daqui vai um abraço Surfigueira ao amigo Tricolor.
    Saúde!!!
    Um brinde.
    MB

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  2. Sou avoada, meio desligada, vivo no mundo da lua. Tenho memória de formiga e crises de ausência, mas vc sabe o quanto eu gosto de vc, né?!
    Já li esse texto umas 50 vezes, desde que vc publicou, e essa primeira frase continua martelando aqui...
    Tenho saudade de vc, Zé. Muita, aliás.
    Topa tomar alguma coisa, semana que vem?
    Te ligo, dia 09 ;)
    Beeijo, Thá.

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