sábado, fevereiro 12, 2011

Como sair da cordas? (O vencedor)

Grandes filmes nos arrebatam pela força e drama de seus personagens. Personagens que, na pele de grandes atores, nos emocionam porque nos reconhecermos em seus sonhos, dramas, qualidades e falhas. Por isso O Vencedor (The Fighter é o título original, denominação bem mais precisa) bate fundo no peito de todo aquele que entrou num rolo compressor de quedas. Derrotas que vão nos minando e machucando, e das quais nos matamos para cicatrizá-las e superá-las. Derrotas em série como a de Micky Ward (Mark Wahlberg), boxeador em decadência que aos 30 anos ainda sonha com uma última chance de fazer lutas importantes e ganhar um título.
Micky, um lutador mais raçudo que técnico, é fora dos ringues um homem pacato e sereno que sofre com uma família pirada e/ou dominadora. A mãe é sua manager, só pensa em ganhar dinheiro às custas do filho e não pensa duas vezes em aceitar qualquer tipo de combate, mesmo quando o rival é muito mais renomado que seu filho. Mesmo se ela está acabando com qualquer plano de uma carreira estudada e digna para o rebento.
Pra piorar, Micky tem como treinador seu irmão, Dicky Elklund - espetacular atuação de Christian Bale, Oscar certo - um ex-boxeador talentoso que chegou a derrubar e lutar de igual para igual contra Sugar Ray Leonard, simplesmente um dos maiores boxeadores de todos os tempos. O problema é que os anos passaram, Dicky virou um viciado em crack amalucado e refém do passado promissor que ainda sonha resgatar. Por isso ele sufoca Micky ou o deixa na mão, não aparecendo para treiná-lo enquanto está chapado.
Quando a nova namorada de Micky, Charlene (comovente entrega de Amy Adams, Oscar bem possível) mostra que a família só está levando-o ao buraco, ele tem uma chance de brilhar mas terá que enfrentar mãe, irmão e as sete irmãs ignorantes.
Guiado por Charlene e por um outro treinador antigo de sua vizinhança pobre de classe operária, Micky vai crescer como lutador, mas quando a coisa esquenta, só o irmão viciado poderá lhe orientar como disputar a luta das lutas.
Drama familiar e esportivo poderoso, O Vencedor embarga a garganta em vários momentos, notadamente quando Bale, como Dicky, e Amy Adams-Charlene incendeiam suas cenas com uma entrega e emoção que nos fazem crer na veracidade de cada gesto, olhar e palavra que dizem. Ela, por seu amor a Micky e pela coisa certa a ser feita. Ele, por sua loucura apaixonada pelo boxe que mesmo sem retorno para ele, como lutador, nunca deixa de queimar seu peito. E o grandioso Bale ainda consegue ora nos causar empatia, ora repulsa, ambas em doses cavalares como um soco no fígado.
A pancada no fígado que é o grande e talvez único grande golpe de Micky.
O golpe único que se parece tanto com aquele único talento que muitos de nós temos. Cabe a nós batalhar demais para aprimorarmos e vencermos com este talento no singular, o que Micky vai tentar fazer enquanto está sendo encurralado nas cordas.
Aqui outra metáfora vital que o filme explora tão bem ao recuperar a canção-hino de Micky, uma das canções mais belas e duras do Whitesnake. No paredão de fuzilamento das cordas é preciso encontrar um jeito de sair dali, sozinho:
here I go again on my own
going down the only road I've ever known
lá vou eu de novo
apanhando o único caminho que eu sempre conheci.
Assista a esse filme e lembre da força que tem o único caminho-golpe que você sempre teve.

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