sábado, abril 23, 2011

Bróder - Irmãos da Vida

(Indicado para quem não esquece dos amigos e amigas de infância que um dia foram inseparáveis)
Por mais que a vida seja um fio frágil suspenso num trapézio altíssimo – é muito fácil arrebentá-lo; acertar ou errar, cair, dar o passo errado – há algo imutável e inquebrantável na alma dos homens de verdade: os fios artesanalmente tecidos, com as linhas mais belas e fortes chamadas amizades do coração.
Amizades que vêm da infância, época da vida em que se sonha e se chora junto porque há sempre um ombro, uma palavra, um olhar ou gesto amigo nos amparando. Bróder é exatamente isto: uma celebração das amizades mais fiéis, dos manos que bateram bola juntos num campinho de terra esburacado quase sem terra.
Manos que curtiram as festas, os botecos e piraram nas mesmas minas – por que amigos do peito quase sempre se encantam pelas mesmas meninas?
Manos que um dia tiveram que tomar rumos diferentes e por isso se afastaram, mas jamais se esqueceram.
Broder é a história desse reencontro. Pibe saiu da favela do mas segue lutando para sobreviver com poucos recursos num pequeno apartamento em cima do Minhocão, esposa e filho pequeno e muitas incertezas. Jaiminho se deu bem, o sonho da bola deu certo e ele fez fortuna e fama na Europa. Macu (visceral interpretação de Caio Blat, o cara parece mesmo um mano da periferia em qualquer característica; no físico, gestual, linguajar, até na mente que oscila entre o sorriso e a raiva, entre a esperança e o medo) ficou. Continua junto da rara camaradagem e vizinhança que se conhece e se cumprimenta nas vielas do imenso Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Mas continua também perto demais do outro lado: o crime que espreita sem parar quem precisa de dinheiro ou oportunidades “fáceis”.
O reencontro vai se dar no aniversário de Macu. Feijoada, pagode, samba, bolo caseiro; comidas que nenhum restaurante fino poderá igualar, mesmo se o arrogante empresário de Jaiminho acha que é muito melhor ele ir comer no Le Jardin, algum típico templo caríssimo da zona mais nobre – e esnobe, de São Paulo. O samba e o pagode? Mesmo quem não gosta vai finalmente entender a preferência da boleirada e galera da periferia pelo estilo alegre, um sopro bom, divertido e sensual – há sempre uma mulher sexy dançando - num ambiente cada vez mais duro.
Mas há o lado errado farejando como um franco atirador covarde escondido num telhado. Há a dívida de Macu. Há o sucesso de Jaiminho a incomodar a bandidagem, não importa se o craque cresceu ali, sonhou e sofreu no Capão antes da vida lhe dar uma chance.
Há as roupas, o relógio e o super carro do craque. Há o rap, que entra na trilha sonora do filme quando os três amigos fogem um pouco do Capão e escutam “Fim de semana no parque”. Há a catarse dos amigos que se reconhecem cantando juntos de novo uma das canções da adolescência. Mas lembremos, é rap, é Mano Brown quem canta. A canção só pode ser sobre uma dura divisão: a realidade da quebrada contra a vida mais fácil e o luxo e consumismo do lado de fora (e de dentro dos muros).
Onde há rap, quase sempre há a história de um conflito. Bróder poderia descambar para o típico banho de sangue fácil dos “favela movies” como Cidade de Deus, mas lembremos: este é um filme sobre três amigos, sobre o sentimento que nenhum criminoso conseguirá comprar: a amizade indestrutível de três meninos-jovens-homens quem um dia cresceram e sonharam juntos no Capão.
Sim, o perigo do crime ronda feito caçador de recompensas impiedoso. O sucesso de um e o fracasso dos outros incomoda demais, mas Macu, Pibe e Jaiminho, mesmo agora em vidas tão diferentes, um dia foram amigos do peito na infância. E isso o coração não esquece.
O coração, aquele que nem a distância ou a morte apaga.
O coração amigo, este o grande alicerce deste filme que nos faz acreditar que os sentimentos mais nobres ainda conseguem enfrentar o tanto mal e indiferença que se proliferam mundo afora; ou no cotidiano que nos afasta dos antigos parceiros.
Bróder é um daqueles raros filmes que têm seus momentos duros e impiedosos, mas também nos faz acreditar.
Bróder não. Mano. Esta a palavra mais exata, porque ser mano é ser paulistano, é ser brasileiro, é portar uma palavra e um sentimento mais fiel ao que ser irmão de coração de alguém quer dizer.

Aê, manos, vejam esse filme. É nóis. Tum Tum Tum, estou batendo, de mão aberta, no meu coração.

Um comentário:

  1. Zé esse filme esta no cinema ou para alugar? Faltou dizer onde podemos assistir hehehehe... Grande abraço! Remo

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