quinta-feira, junho 23, 2011

O resgate da arte

Não adiantou secarmos. O Santos, para o bem do futebol, é o melhor time da América de novo. 50 anos depois da máquina de Pelé, os santistas finalmente podem dizer que realmente não vivem mais do passado. E, se o espetáculo dos sonhos que era o time do Rei, não pode ser igualado, o Santos de Neymar, Ganso, Léo, Danilo, Arouca – todos esses jogaram o fino ontem – realmente tem o DNA do verdadeiro futebol brasileiro. Aquele futebol arte - bem jogado, bola de pé em pé, ousado nos dribles - que quase todos os outros times de nosso país enterraram num passado distante ou apresentam em pequenas doses.
Quando Arouca disparou fazendo fila, tabelou com Ganso e este, gênio, devolveu de calcanhar, meu coração de secador foi traído pelos olhos, rendidos à beleza estética da jogada. Rendidos pelo futebol como o futebol deveria e deve ser. O futebol de um raro volante brasileiro que sabe jogar, Arouca, avançando em ritmo alucinado e hábil até perceber esse raro caso de menino que já é um exímio finalizador, de uma calma letal, o supercraque e maior herói do Tri da liberta Santista, Neymar.
Depois, o talento decidiu de novo, com outro menino de personalidade, o tão guerreiro quanto técnico Danilo. Era quase um nocaute no Peñarol e em todos nós secadores (jamais perdoarei o time em que jogou Diego e Robinho por um dia desrespeitarem o meu São Paulo de uma forma indecente e sem caráter), mas os uruguaios ainda descontaram e nos fizeram acreditar. Até que o árbitro argentino encerrou a justíssima vitória e título de quem merecia de fato.
Até um sãopaulino (sim, rejeitado por nosso presidente e por muitos torcedores, este aqui incluído) sair correndo pelo campo, comemorando o maior título de sua vida. Falo de Muricy. Falo deste grande treinador e homem que muitos de nós execramos porque não bastou fazer o São Paulo ser campeão brasileiro três vezes. Renegamos Muricy pelas 4 Libertadores perdidas jogando feio, jogando contra o DNA do clube e futebol brasileiro. Agora a verdade fica clara: Muricy talvez apenas tenha jogado como poderia no São Paulo. Lhe deram craques e ele venceu sem grandes dificuldades e jogando bonito a Liberta. E ele ainda parece ter atenuado a marra de Neymar, que parece mais sereno fora de campo e parou com as gracinhas improdutivas debochadas no meio dos jogos. Agora só falta conseguir que ele pare de se jogar tanto fazendo teatro.
Resta parabenizar esse grande time do Santos, que é disparado o melhor do país e da América. Um time que pode, sim, peitar o time dos sonhos do Barcelona. Desde, claro, que não perca Neymar e Ganso. Se um deles partir, aí será um milagre bater a máquina de Xavi, Iniesta e Messi.
Parabéns, sobretudo a minhas queridas alunas santistas doentes que sabem que futebol e vida de verdade é ao vivo. Natália e Bárbara sabem que a beleza e a paixão mais poderosas só podem ser vividas lá nas arquibancadas onde elas estavam. Sim, torci contra seu time, mas por vocês. E admito que, para o bem desse esporte e de algo tão raro chamado “beleza na vida”, venceu quem devia vencer.
Mas agora chega, VAMO, BARÇA!!!
PS – Mais uma da lista infinita de burrices do Juvenal: Ter trocado o Arouca pelo Souto foi brincadeira!!!
PS 2 - Já está em ação o plano de nós, secadores, para o Barça ser campeão do mundo!: Borges, o Pipoca Mascarado, no lugar de Zé Inacreditável F.C. Love!
PS 3 - Pelé não se emenda mesmo. Lamentável usar um terno vermelho (???) em plena final da Liberta só pra faturar uma grana do Santander, patrocinador da Libertadores.

segunda-feira, junho 20, 2011

Marcos e Rogério - O Santo e o Milagreiro Profissional


Não existe ídolo mais humano que Marcos. Mais humano porque decente, digno, nobre, raro. Para os que amam o futebol, mas amam ainda mais o ser humano, o que ele fez ontem foi mais uma atitude que só ele parece capaz de ter no futebol brasileiro de hoje. Seu time goleava e quando surge um pênalti, o estádio inteiro, como uma homenagem ao seu ídolo máximo, pede que ele faça a cobrança para. Quase toda a nação palmeirense quer que ele faça o gol. Os torcedores querem explodir de alegria com o gol de seu Santo goleiro. Querem lhe dar um presente, sentimento também compartilhado com os próprios jogadores do Palmeiras, que vão chamar Marcos para dar o chute da glória.
Numa sociedade e mundo cada vez mais midiático e sedento de fama, o lógico seria o ídolo, anestesiado pelo clamor da massa, ir lá e chutar.
Só que a única lógica que Marcos segue é a do seu caráter e coração, dois elementos poderosos que parecem ser a mesma coisa em sua imensa dignidade. Por isso ele pensou que ir lá fazer o gol seria uma ofensa ao novo e jovem goleiro do Avaí. Tomar gol de goleiro seria duro demais para um companheiro de profissão e um time modesto que já apanhava feio.
Assim é Marcos, sinônimo de respeito e de uma das raras estrelas capaz de ter compaixão no mundo das super estrelas do esporte. Perdão, eu erro. O Marcos de tantos títulos colossais com seu Palmeiras e com a Seleção Brasileira é estrela só no currículo. Pois na verdade é um dos sujeitos mais simples que já passou pelos gramados e história desse planeta.
Simples, justo e sempre decente também é o técnico Felipão, que ficou transtornado quando seus jogadores pediram para Marcos bater o pênalti. O treinador também foi totalmente contra uma homenagem que sua sabedoria e experiência sabiam que eram uma humilhação.

O outro personagem desta bela rodada foi um amigo de Marcos, Rogério Ceni. O Rogério goleador do qual Marcos nunca teve inveja por fazer gols e ele não. Mas o mito sãopaulino é notícia de novo não por balançar as redes mas sim pela espetacular atuação de ontem. 38 anos e ele segue pegando pênaltis, fazendo grandes defesas e pelo menos um milagre: o voo inacreditável e a espalmada, braços esticados, no chute de Diguinho que ia, violentamente, para o ângulo.
Mais que as defesas, porém, Rogério brilha também pela incrível força de vontade: mesmo tendo machucado o tornozelo há algumas rodadas, ele segue atuando sem ter se recuperado totalmente. Tem jogado com uma botinha no tornozelo, por isso tem evitado bater faltas. Sim, Rogério tem sede de recordes, está buscando a marca de maior número de partidas consecutivas com a camisa tricolor (107). Já tem 102. Mas a obsessão por recordes não diminui sua raça e raríssimo amor à camisa que o faz jogar com dor, com muita dor. E ele ainda sente-se na obrigação de dar o exemplo e liderar esse São Paulo cheio de garotos.
Com um mito tão guerreiro e exemplar, os garotos têm dado o sangue por seu ídolo e capitão. Essa é uma da razões desse São Paulo líder do Brasileiro e suas 5 vitórias seguidas.
Porque Rogério é um Profissional inacreditável, que se mata em campo pelas cores do time de sua vida (assim como faz Marcos no Palmeiras, ainda jogando depois de tantas contusões, e enfrentando suas inúmeras dores todo jogo).
Por isso é tão amado pelos sãopaulinos.
Por isso que este sãopaulino que aqui escreve não aceita mais uma desculpa de um jogador que alegou dores abdominais para não encarar a longa viagem até o Ceará e depois encarar o calor e pressão infernal em Fortaleza. Gozado, né, por que será que Dagoberto se machuca ou toma o terceiro cartão amarelo sempre antes de jogos disputados nos lugares mais longínquos?
Dores abdominais??? Precaução contra uma distensão? Mas alguém aí conhece alguém que já teve uma distensão no músculo mais forte de todo o nosso corpo, o abdome???
O futebol precisa de mais Marcos e Rogérios.

segunda-feira, junho 13, 2011

A adorável menina que se importava



Acontece quando toca uma canção e a beleza e emoção é tão grande que escutamos no mesmo instante o grande álbum de nossas vidas. Mais que isso, a trilha sonora do filme da nossa história. Ou uma novela sem fim em que guardamos algumas das cenas e capítulos mais importantes de nossas vidas. Eu passava pela sala quando então a TV tocou essa canção, em homenagem à uma mulher que tanto se importou com as pessoas que mais precisavam, Oprah Winfrey. Vi pouco seus programas mas sempre pensei nela como uma grande dama que em vez de exibir banalidades, celebrava a humanidade em seus programa e atos, como no colossal movimento tocado por ela para ajudar as vítimas do Katrina.
Isn´t she lovely? Ela não é adorável?, cantou Jamie Foxx pra ela, e logo surpreendeu Oprah ainda mais quando de um truque do palco elevou-se um piano e uma lenda, Stevie Wonder, continuando a cantar essa canção maravilhosa mas modificando a letra em homenagem à Oprah.
Volto então ao início desse texto, sobre as canções que nos fazem recordar, e o nome veio instantâneo, o seu. E, não, a associação da canção com você não veio porque era uma das canções que você mais amava. Isso veio depois. O que aconteceu é que quando escutei o verso “é incrível o quanto você fez”, fui transportado para algumas cenas em que, no meio de tanta gente, foi apenas você quem se aproximou e ofereceu palavras bonitas de afeto, e um olhar vital doce, para quem tanto precisava.
Obrigado por ter sido a protagonista de pequenas cenas inesquecíveis de meu filme.
E espero que um dia alguém cante essa canção para você. Cada verso será merecido, adorável poeta de afetos, palavras (escritas com tanto capricho e sentimento naquelas folhas de papel), olhares e, ainda bem, atitudes.
A atitude de quem sabe que a vida é urgente, e um presente que não devemos guardar, apenas oferecer, e aquecer.
PS - Que falta que você faz!E vá para o 2min16s do vídeo, é lá que rola a sua canção.