segunda-feira, agosto 08, 2011

Colômbia (1) – O povo é a viagem

   A Colômbia é um grande jardim. Não só das pequenas praças, jardins e parques em todo canto, mas de pessoas. Raros lugares e países possuem sintonia tão grande entre lugar e pessoas. Entre um povo e a natureza da qual cuidam com um capricho que é amor.
Um capricho quase inacreditável, porque muitos dos jardins são pequenos canteiros de grama verdinha aparada e flores na rua, ao lado das casas ou pequenos predinhos. Tradução? Os jardins não são escondidos dentro das residências mas sim oferecidos a todos.
Enquanto tantos, nesse mundo egoísta e individualista, guardam a beleza para si, os colombianos semeiam-na, compartilham. Porque assim é o coração desse povo: com fragrâncias variadas, múltiplas, colorido como sua bandeira.
Uma bandeira que ficaria mais exata se mostrasse nela o sorriso, indescritível (é preciso ir lá e perceber a dimensão dele) desse povo que acolhe com a alegria sincera de uma criança que deseja mostrar ou oferecer seu desenho para o pai ou mãe.
Oferecer, este um dos verbos que mais traduz a alma do colombiano, pois eles sempre estão nos oferecendo um sorriso e algumas palavras com uma simpatia genuína. Um simpatia que traduz a alma de um dos povos mais educados que conheci na vida. Ou não é educado um povo em que até os policiais e soldados, quando pedimos uma informação, nos atendem com um “a su merced, caballero” (a sua mercê, cavalheiro). Igualzinho aos oficiais brasileiros... 
Ou não é educado um povo que, em qualquer comércio, é amabilidade pura, com raras exceções como uma das únicas vendedoras secas que encontrei, no único dia em que fui a um shopping... Talvez porque shoppings se assemelham em qualquer lugar do mundo ao esconder e matar  a essência de um lugar, povo e país. Se bem que o shopping que visitei em Medellín tem até um belíssimo jardim e atividades culturais...
Mas volto às flores, onipresentes no bairro onde fiquei, em Bogotá. Quando o verde e os jardins acabavam, encontrava uma área esportiva, com quadras e barras para exercícios. Então as flores viravam pistas de patinação e quadras poliesportivas. E as cores e verde vinham é das crianças e jovens que praticavam esportes orientadas por treinadores. Treinadores na maioria voluntários. Esporte e cidadania, ao lado da rua.
Ou cultura e cidadania, como no incrível evento educacional que presenciei (graças à dica da mocinha da recepção de meu hotelzinho, em Medellín) no Jardim Botânico. Eram dezenas de oficinas de texto, argila, desenho, música, circo etc etc lotadas de crianças aprendendo brincando. 
   Jardim Botânico, Medellín
   Aí lembro do belíssimo Jardim Botânico, do Rio de Janeiro, por exemplo, e nunca soube de um evento para crianças lá. Incrível como os parques brasileiros são subutilizados. O nosso Ibirapuera, aqui em São Paulo, por exemplo, tem eventos incríveis, mas em geral dentro do Pavilhão da Bienal ou da Oca, quase sempre em eventos pagos. Só os shows de música são grátis ou uma ou outra atividade esporádica.
Ainda na cultura, a Colômbia é tão inovadora e bela que construiu bibliotecas enormes dentro das favelas e parques, e podemos ler enquanto olhamos a paisagem, pois não são bibliotecas como as nossas, verdadeiros sarcófagos, mas isso é assunto para outro post.
    Biblioteca Pública ao lado da favela, no morro, em Medellín
   Volto aos sorrisos, e lembro com saudade da incrível hospitalidade do pessoal do pequeno hotel com jeito de casa de família onde fiquei em Bogotá. Toda hora em que saía do quarto recebia sorrisos e palavras calorosas. Bem diferente da simpatia falsa, por obrigação, de muitos hotéis, ali o Juan, o Diego e a inacreditavelmente atenciosa Paulina fazem cada hóspede sentir-se mesmo em casa.
Uma grande casa e lar chamada Colômbia.
Não preciso de paisagens de cartão postal, ou imagens de National Geographic, de tirar o fôlego, para ganhar a beleza, com que sonha qualquer viajante.
Preciso apenas de belezas simples de lugares bem cuidados e de um povo incomparável.
Preciso apenas conhecer um lugar em que o destaque é o calor humano, e não monumentos ou dádivas monumentais da natureza.
Os maiores tesouros deste planeta, para mim, não são lugares. São pessoas. E o que as pessoas fazem desses lugares.
* Dedico esse texto a uma querida aluna que anda meio distante, mas que um dia escreveu um maravilhoso texto revelando o tipo de viagem com que ela sonha: a viagem para lugares e países não tão badalados, porque ela sabe que nesses lugares e povos ela encontrará sentimentos e belezas mais genuínas e secretas. Vá um dia pra Colômbia, Victória, um lugar igualzinho aos seus sonhos.
    Parque Simón Bolívar, Bogotá

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