quinta-feira, outubro 27, 2011

Maurren Maggi - A mais bela campeã

Poucas atletas na história do esporte brasileiro foram e são tão belas quanto Maurren Maggi.
Bela por esse fantástico e escancarado sorriso de quem realmente ama o que faz e a bandeira que carrega com tanta verdade e paixão. Bandeira e país que ficam ainda mais bonitos grudados às suas formas esculturais - longilíneas e esguias como uma onça pintada. Pintada de ouro, três vezes na história dos Jogos Panamericanos.
Bela por essa fera ser também dona de uma voz delicada e emocionada a cada conquista.
Bela por sempre lembrar da pequena Sofia, sua filha, a cada triunfo.
Bela porque essa super mulher ainda vibra com a graça de menina que nunca deixou de ser. A menina Maurren que nunca esquece de seu talismã de pelúcia, o simpático cachorrinho Leão.
Bela porque Maurren é, talvez mais que tudo, o exemplo da guerreira que venceu o doping injusto (*), uma precoce despedida - desencantada - do atletismo e um casamento desfeito para voltar aos saltos e lugares mais altos do pódio.
Bela porque numa das mais simples e bonitas provas do atletismo - o salto em distância - a prova fica ainda mais plástica e sedutora quando é ela, Maurren, quem salta.
Bela porque ali, naquela pequena pista de corrida e tanque de areia, Maurren Maggi faz da brincadeira tão antiga e gostosa de correr e saltar uma aula de velocidade, força, explosão e arte.
Uma aula que ela continua dando aos 35 anos, extendendo sua vida de atleta e paixão de menina.

Campeã olímpica e agora tricampeã panamericana (saltando ontem 6m94 no Pan de Guadalajara), poucas atletas brasileiras voaram tão longe, e com tanta beleza, dentro e fora de seu esporte como essa eterna namoradinha do Brasil. Namoradinha no diminutivo apenas para corresponder ao carinho que ela sempre nos inspirou. Ela, a que nós, os legítimos amantes dos esportes e do Brasil, sempre amamos como uma das mulheres-exemplos de nossas vidas.
Que sua voz doce vitoriosa ainda siga ouvida nas grandes competições, explodindo de alegria, até pelo menos Londres 2012, querida Maurren.
Querida campeã do coração e fibra ainda mais belos que sua fantástica coleção de medalhas de ouro.

(*) Maurren doi suspensa do atletismo em 2003 por um suposto doping. Ela descobriu pouco depois que a substância proibida vinha de uma pomada que passava contra celulite. Pomada receitada, irresponsavelmente, por sua dermatologista, uma badaladíssima médica paulistana. Testes com a pomada, feitos pelo jornalista Moacir Ciro Martins, no antigo Diário Popular, mostraram que a pomada continha mesmo, em altas doses, a substância dopante. Quanto à falta de cuidado da médica, atestei o mesmo em minha própria pele quando adolescente, quando ela me deu o mais poderoso e ofensivo remédio contra espinhas sem ter o cuidado de me pedir exames gerais. O remédio chamava-se Roaccutane, até hoje uma droga muito perigosa para o nosso organismo.

Gente que quer mudar o mundo

De Tahrir a Zuccotti, o poder do lugar
por Michael Kimmelman (New York Times)
O movimento "Ocupe Wall Street", que surgiu no mês passado em Manhattan e chegou a mais de 900 cidades do mundo no fim de semana retrasado, prova entre outras coisas que, por mais importantes que sejam as novas mídias na difusão dos protestos hoje em dia, nada substitui o fato de as pessoas saírem às ruas.
Tendemos a subestimar o poder político dos lugares físicos. Aí aparece a praça Tahrir. E agora o Zuccotti Park, que até 17 de setembro era uma praça totalmente obscura no centro da cidade, a dois quarteirões de Wall Street. Algumas centenas de pessoas com ponchos e sacos de dormir o colocaram no mapa.
A Universidade Estadual de Kent, a praça Tiananmen, o Muro de Berlim: claramente usamos os lugares e a arquitetura para abrigar nossas lembranças e nossa energia política. A política perturba nossas consciências. Mas os lugares assombram nossa imaginação.
Por isso, entramos no Facebook e no Twitter, mas fazemos peregrinações a Antietam, a Auschwitz e à Acrópole, para fitar entulhos da época de Péricles.
Morando há alguns anos na Europa, costumo topar com parques e praças - seja em Barcelona ou Madri, em Atenas ou Milão, em Paris ou Roma - tomados por barracas de manifestantes acampados. Protestos e aglomerações são parte do pacto social europeu.
Talvez a diferença na América tenha algo a ver com a tradicional obsessão dos americanos por automóveis e autonomia, com a sua predileção pelo isolacionismo, ou pela preferência por apenas assistir ao invés de participar.
Na Europa, os protestos eram relativos a empregos, aos cortes nos gastos públicos e à dívida. No caso do Zuccotti Park, a mensagem está no acampamento propriamente dito.
Em sua "Política", Aristóteles argumentou que o tamanho ideal da pólis é dado pelo alcance do grito de um arauto.
Ele acreditava que a voz humana estava ligada à ordem cívica. Uma cidadania saudável exigia uma conversa cara a cara.
Quando a polícia proibiu os megafones no Zuccotti Park, ela obrigou os manifestantes a buscarem uma alternativa. O "teste de microfone" se tornou o método consensual, no qual a multidão repete, frase por frase, o que o orador disse, exigindo na prática que todos falem em uníssono. É algo lento e trabalhoso.
"Mas assim é a democracia"
, disse Jay Gaussoin, 46, marceneiro e ator desempregado. "Andamos tão distraídos hoje em dia que as pessoas se esqueceram de como ter foco. Mas o 'teste de microfone' exige não só que escutemos as opiniões dos outros, mas também que ouçamos realmente o que eles estão dizendo, porque temos de repetir suas palavras exatamente."
"Isso exige uma arquitetura de consciência"
, foi o adequado termo que Gaussoin usou.
O Zuccotti Park na verdade se tornou uma pólis (cidade) em miniatura. O fato de ele por acaso também ser um parque particular é um dos subtextos mais reveladores dessa história. Uma exceção aberta há alguns anos na lei de zoneamento exige que o parque, ao contrário dos espaços municipais, permaneça aberto dia e noite.
Isso jogou um inesperado holofote sobre a falência de grande parte dos espaços que são tidos como públicos nos EUA. A maioria deles são gestos simbólicos de incorporadores imobiliários em troca da construção de prédios maiores e mais altos. O Zuccotti está sujeito às regras do proprietário, que proíbem lonas, sacos de dormir e a guarda de objetos pessoais no local.
Toda essa situação ilustra até que ponto permitimos que o antigo ideal de espaço público virasse uma concessão comercial.
"Viemos aqui para ter a sensação de ser parte de uma comunidade", disse Brian Pickett, 33, professor de teatro e oratória na City University, de Nova York. "É importante ver isto no contexto da alienação de hoje. Ficamos sozinhos no Facebook. Mas as pessoas não estão sozinhas aqui."
E, dessa forma, os manifestantes também se revelam uns aos outros. Os egípcios descreveram esse fenômeno na praça Tahrir. Os manifestantes não só exibem ao mundo uma massa de pessoas. Eles descobrem pessoas com preocupações semelhantes ou mesmo idênticas. O parque é literalmente um terreno comum. O processo de gestão escolhido já é por si só uma mensagem fundamental de protesto.
Ele oferece os contornos de uma cidade, como eu já disse. Os manifestantes montaram uma cozinha para servir alimentos, uma secretaria jurídica, um departamento de saneamento, uma biblioteca com livros doados, uma área para as assembleias gerais, um posto médico, um centro de mídia onde é possível recarregar laptops usando geradores portáteis, e até uma loja abastecida com doações de roupas, lençóis, creme dental e desodorante -tudo de graça, assim como os mais diversos tipos de alimentos.
A produtora rural orgânica Sophie Theriault, 21, atua como voluntária no parque. "Nós nos reunimos todas as noites para falar sobre como manter este lugar limpo e sóbrio, mantê-lo como um lugar emocional e fisicamente seguro para todos", disse. "O consenso constrói a comunidade."
O compositor e engenheiro de som Patrick Metzger, 23, ecoou esse pensamento: "Pelas mensagens na internet, você nunca obtém informações sobre raça, classe, idade - quem as pessoas realmente são. A Fox News fala de turbas e gente esquisita.
Mas dá para ver como a mistura é realmente complicada: estudantes e pessoas mais velhas, pais com famílias, operários da construção na hora do almoço, executivos desempregados de Wall Street".
Metzger tem razão. A diversidade dos manifestantes, pelo menos durante o dia, é intrínseca à perseverança do protesto. Desde o 11 de Setembro não havia tanta gente perguntando "Você esteve lá?" e "Você viu?" a respeito de algum lugar em Manhattan.
É claro que a ocupação do mundo virtual juntamente com o Zuccotti Park está impulsionando o "Ocupe Wall Street", e uma coisa não seria tão eficaz sem a outra.
Só que é no terreno que os manifestantes estão construindo uma arquitetura da consciência.

segunda-feira, outubro 10, 2011

layla - eric clapton


Os primeiros acordes da guitarra são nervosos, urgentes, logo ficam mais agudos e acelerados, viram grito, uma declaração desesperada. O guitarrista começa a cantar então, dá seu recado, e logo chama, clama por ela, Layyyyyla!, diz que está aos pés dela, “Layla, you´ve got me on my knees”, as palavras são de um homem atormentado que, enlouquecido, se apaixonou pela mulher de um grande amigo
Poucas canções foram tão corajosas na história do rock, um homem arriscando tudo por amor e ainda com a coragem de gravar isso e, mais ainda, cantar para o mundo seu amor como uma serenata cósmica para todo o universo escutar, sim, todo o universo, pois que planetas não escutam a paixão estratosférica daquele que já foi chamado de deus da guitarra?
Voltemos à canção, e em sua belíssima parte final o grito dá lugar ao sussurro na poesia de um piano que é olho nos olhos, súplica doce pedindo, sem falar, por ela; e quando o piano cresce em intensidade, o deus solitário segue rasgando sua guitarra e dissecando seu coração sem medo. Podemos sentir Clapton tentando mostrar tudo o que poderiam ter juntos. Poucos acordes, riffs e solos foram criados com esta paixão genuína das cordas e teclas que buscam o amor proibido.
Deu certo. Layla, na verdade Patty Boyd, deixou George Harrison para ficar com Clapton.
Se o amor não durou – eram os anos mais loucos dele, no auge da dependência do álcool e drogas, e Patty-Layla não suportou - a canção é eterna.
O grito, Layyyyyla!, segue inspirando os apaixonados que não temem nada na hora de lutar pelo amor de suas vidas.

sexta-feira, outubro 07, 2011

Porque Romário é mais ídolo, do povo, que Ronaldo

Os dois foram monstros do futebol, campeões do mundo e protagonistas de carreiras fantásticas. O sucesso deixou-os milionários, sobretudo Ronaldo, muito mais marketeiro e envolvido com seus patrocinadores que o Baixinho. Não é por acaso, então, que Ronaldo montou uma agência publicitária, de marketing, gerenciamento de carreiras e tudo o mais que dê dinheiro com o futebol. Virou empresário de sucesso e um verdadeiro tubarão caçador dos atletas mais renomados.
Romário optou por outro caminho. Homem mudado desde que teve uma filha com síndrome de down, decidiu fazer alguma coisa pelos portadores da doença e por mais pessoas. Entrou na política e foi visto, antes de assumir seu cargo de deputado federal, como mais uma celebridade aproveitadora querendo mamar nas tetas de uma das maiores vacas do mundo: a mimosa e malandra Brasília.
A desconfiança e as chacotas com o Baixinho cessaram logo que começou a trabalhar e falar. E como tem trabalhado e falado, mostrando a mesma postura letal e sem medo que tinha na grande área. Tudo que é nefasto em nosso futebol, e não só no mundo da bola, é alvo do Grande Baixo: Ricardo Teixeira, CBF, Copa 2014, reforma do Maracanã etc etc. Ele ainda é contra o voto secreto, pois acha que seus eleitores devem saber no que está votando. “Quem votou em mim quer saber no que eu estou votando, se eu sou a favor do certo ou do errado”
disse ele, em imperdível entrevista na revista da ESPN Brasil. Romário ainda diz duas frases poderosas. Ambas revelam a consciência de seu papel e missão, fato raro num homem que veio do mundinho alienado ou egoísta do futebol brasileiro:
A primeira: “Hoje eu sou, sem dúvida, muito mais ídolo que antes.”
A segunda: “Vocês nunca vão me ver envolvido em falcatrua, em corrupção. Nunca.” Sobre essa declaração, André Kfouri, filho de Juca, escreveu em sua coluna no jornal Lance: “É a obrigação de qualquer cidadão, por isso não deveria chamar a atenção. mas ao sair da boca de um político brasileiro, e de forma pública, é dessas coisas que a gente tem de ler de novo para ter certeza do que está escrita. A confirmação distingue, gera respeito. O deputado Romário está fazendo tudo certo. Em sua atuação como fiscal da Copa do Mundo de 2014, tem representado a parcela da população que não age como primatas de auditório.”
De outro lado, temos Ronaldo. Aquele que ao encerrar a carreira chorou e nos comoveu. Lembro de que dei aulas sobre o valor dele em minha matéria de Atualidades, na escola. Mas cobrei o ídolo em uma afirmação para a molecada: “O mais importante agora é ele cumprir a promessa que fez: a criação de seu instituto social que ele batiza de Criando Fenômenos.”
Sim, ao meu ver, quem tem muito dinheiro e, ainda o benefício de ser uma estrela, deve fazer algo pelos que não têm num país ainda tão carente como o Brasil. O caso é que Ronaldo prometeu e até, agora, nada.
É essa inércia que foi citada por outro colunista do Lance, Alexandre Lozetti no brilhante texto “O poder que Ronaldo tem. Mas não usa...”. Alexandre mostra que “Ronaldo prefere posar de garoto-propaganda do Itaquerão, faz graça com o uso do dinheiro público e vive de afagos com figuras como Andrés Sanchez e Ricardo Teixeira. O ex-corinthiano  já esteve ligado a atividades na ONU. Já atuou na Unicef. Seu trânsito é muito maior pelo mundo (que o de Romário). Seu pedo (no bom sentido), idem. Inteligência não lhe falta. Não falta nada a Ronaldo para ser um defensor do povo brasileiro também fora de campo. Ou melhor, parece faltar o essencial: vontade.
Ronaldo deveria proteger o torcedor, a quem agradeceu, emocionado, em sua despedida. Até 2014, há tempo para decidir se quer assumir sua relevância ou seguir pensando em benefício próprio e de tão poucos.”
Prefiro o conceito de parceria de Romário, parceiro do povo, da decência, da verdade e de um país melhor.
Prefiro a consciência do Baixinho, apresentada em outra resposta à ESPN, ao atacar a reforma do Maracanã: “Não dá para admitir que se gaste R$ 1 bilhão em um estádio e que num raio de 10 km tenha pelo menos três hospitais municipais em estado deplorável, que se recebessem 1% d valor da reforma poderiam ser inteiramente renovados, em aparelhagem, capacidade de profissionais, qualidade dos leitos e tantas outras coisas.”
PS – Quem quer se informar sobre a verdade do esporte no Brasil, a fonte mais confiável estão nas páginas do Lance e nas várias mídias da ESPN, seja em papel, TV ou rádio (nesta, em parceria com o Estado de S. Paulo).