sexta-feira, maio 25, 2012

A busca de verdade não aparece no Google (ou as lições de vida do cineasta Walter Salles)


Uma lição sobre onde está a vida que perdermos ao não sair de casa, dos mesmos lugares de sempre, do micro, do celular e outros hábitos alienantes. É isso o que oferece a bela entrevista com o cineasta Walter Salles - sobre o filme On the road (Na Estrada) - na revista Época. Como não está disponível no site da revista, reproduzo alguns trechos e uma mentira. O título da entrevista é uma frase que Salles não disse: “Os jovens não são mais conformistas”. A seguir, a pergunta e resposta sobre isso:

ÉPOCA - Os jovens hoje são mais conformistas ou estamos entrando numa outra onda de contestação?
W. SALLES - Experimentar tudo na primeira pessoa colide com a ideia de experimentar por procuração, em frente à tela de um computador ou em frente à televisão, assistindo a um programa de teleirrealidade. O livro (On the road, saga de liberdade e experimentações dos poetas e escritores beat nos anos 50) é um pouco uma vacina contra esse imobilismo. Movimentos recentes, como a Primavera Árabe, os indignados na Espanha e as manifestações como Ocupem Wall Street revelam um desejo de transformação da sociedade. Hoje o clima é bem diferente dos anos 1980 e 1990...

Ou Seja, o que Salles disse é o que os jovens estão menos conformistas que as gerações dos anos 80 e 90, mas ainda há muita apatia e alienação, como ele revelou ao falar dos jovens que ficam em frente das telinhas, sem experimentar e vivenciar a vida real. Sobre isso, Salles revela em uma de suas repostas que “experimentar é a única forma de desenvolver uma experiência crítica. E afinar sua visão de mundo”. Esta frase é uma paulada na juventude que não sai de casa, do quarto, do carrinho do pai e mãe e do shopping, e ainda passa horas mergulhada em seus aparatos tecnológicos sem olhar ao redor e perceber as pessoas e o mundo.
A vida sentida na pele é a essência do livro e filme On the road, e Salles caiu na estrada também com sua equipe e atores para fazer o filme (antes ele ainda fez um documentário sobre o mesmo tema) e ele revela como essa experiência foi decisiva em sua carreira de cineasta:

ÉPOCA – O senhor fez Central do Brasil, Diários de Motocicleta, sobre Che Guevara, e agora Na estrada, sobre Jack Kerouac e a cultura beatnik. Todos road-movies. O senhor se considera mais um cineasta ou um viajante?
W. SALLES – (...) Toda vez que você se distancia do ponto de origem, você ganha maior perspectiva sobre quem é, de onde veio e eventualmente quem você quer vir a ser...

Ou seja, galera, quem ficar preso aos mesmos lugares, hábitos e imobilidades; quem não viaja e não sai de sua cidade, nunca vai ganhar uma dimensão e entendimento maior de seu país, mundo e da própria vida. Portanto, pé na estrada, ou na rua. Um bom começo para um paulistano é pegar o metrô, dar uma caminhada pelo entorno das estações e as exposições riquíssimas que rolam em várias estações. Sai da net, sai de casa, a vida não é um programa de busca de notícias. 

A busca real é outra coisa, bem mais gostosa, rica e verdadeiramente viajante.

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